Vida de pescador

rvermelho_caroline02g.jpg

por Luciana Silva

Chuva, sol, ventos fortes, tempestades. Esses não são os únicos problemas enfrentados pelos pescadores da Colônia Z-1. Protagonistas das principais histórias do Rio Vermelho, os pescadores que integram a primeira colônia de pescadores de Salvador superam as adversidades dia após dia e enfrentam as desventuras com muita bravura em troca de um escasso rendimento, na luta pela sobrevivência.

Entre os, aproximadamente, 600 pescadores afiliados à colônia, Alessandra Fernandes, 24 anos, é a única mulher documentada. Mulher forte e determinada, conhecida como Dandinha, ela enfrentou o preconceito e finalmente adicionou seu nome na lista da Federação de Pescadores do Estado da Bahia. “Queriam me registrar como marisqueira, mas eu não gosto de catar mariscos, gosto de enfrentar o mar, gosto de emoção, de atitude”, diz ela olhando fixamente para o mar.

Marisqueira é a profissão mais comum entre as mulheres, mas nem por isso as mulheres aderem a essa profissão. Muitas gostam de aventura e preferem enfrentar o preconceito a deixar o amor pela profissão. “Dandinha é muito corajosa, é a única cadastrada na colônia. Existe outras mulheres pescadoras na colônia, mas não são cadastradas. As mulheres sofrem preconceito somente na teoria, com as gozações do pessoal, mas na prática não”, disse Raimundo dos Santos, 42 anos, pescador.

rvermelho_caroline03g.jpg

Os pescadores têm direitos como qualquer outro profissional. O auxílio defeso é um benefício equivalente a um salário mínimo e é concedido pelo Ministério do Trabalho e Emprego aos pescadores no período em que é proibida a pesca em respeito à desova (reprodução) do camarão, da lagosta, da piracema e do robalo. Porém, na Colônia Z-1, o secretário da colônia, Jorge Amorim, 61, afirma que eles não recebem o auxílio defeso. “Não recebemos nada, porque não exploramos camarão, lagosta e peixes de defeso. Nossa pescaria é pescaria de linha, artesanal”. A afirmação é confirmada no site www.seagri.ba.gov.br. pela SEAP- Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca que é vinculada ao governo federal.

Criada no início do ano de 2003, a SEAP foi uma iniciativa do governo petista e tem como finalidade ampliar a exploração do potencial brasileiro de pesca. No Brasil, o consumo de pescados é muito pouco. Pelas estatísticas, esse consumo chega a cerca de 6,2 Kg por habitante, durante o ano. “A pescaria nunca teve secretaria. Agora com o governo Lula temos o SEAP, a nossa secretaria. Temos todo um amparo do governo federal, mas ainda deixa muito a desejar”, disse o presidente da colônia dos pescadores do Rio Vermelho, Eulírio de Menezes.

rvermelho_joao01g.jpg

No mês de maio, os pescadores tiveram problemas com a chuva. O perigo fica mais evidente e por isso os barcos não são levados ao mar. “Não existe quebra-mar, por isso perdemos os barcos. Nenhum órgão nos ajudou com esse problema. Eles só dão apoio aos outros pescadores”, contestou Jorge Amorim.

Venda
A venda dos produtos passa por um longo processo. Depois de serem pescados, os frutos do mar são entregues ao atravessador que paga um preço baixo, vendendo os mesmos por preços mais elevados no mercado ou em domicílio à freguesas fiéis. Ou seja, quem mais sai lucrando são os atravessadores que estipulam o valor final. “Vendemos os peixes ao atravessador por R$ 5,00, eles ficam responsáveis pelas vendas e por tabelar os valores, enfim, não temos lucro”, disse José Pereira, 58 anos, pescador.

A maior percentagem fica com os atravessadores, enquanto que o pescador vive do pouco que ganha, trabalhando muito sem ter um salário estável. “Pescador vive do que pega no mar, não tem um salário fixo não. Quando o clima não ajuda, não podemos trabalhar por causa da chuva. Ai fica difícil de sustentar nossa família”, disse um pescador que não se identificou.

O mar se apresenta aos pescadores de diversas maneiras. Ora respeitoso, ora extraordinário e ora majestoso. Todos os dias, estes trabalhadores o afrontam em troca do dinheiro que garantem a sua existência e de suas famílias. Nascem, morrem e vivem nele. Embora algumas pessoas achem que no inverno os pescadores passam por mais dificuldades por causa das chuvas e dos ventos fortes, engana-se quem pensa dessa forma. “A pior época para pescar é o verão, no inverno tem muito mais peixes e o rendimento é melhor”, informou Jorge Amorim.

Reconhecimento
Com tantos perigos, sobra preocupação para os familiares e, principalmente, para as esposas. Neuza Maria da Silva de Jesus, 52, mulher de um dos pescadores da Colônia Z-1 passa noites em claro a espera de seu marido “Eu tenho muito orgulho do meu marido, mas a preocupação é muita. Eu fico preocupada quando ele sai em alto mar, principalmente quando está chovendo, não é nem tanto pelo perigo do mar, mas quando está ventando. Eu perco o sono. Tem vezes que não consigo dormir de jeito nenhum”.

claudiana_riovermelho15.jpg

O mar é a razão de ser de um pescador. É dele que se tira a sobrevivência, é nele que se passa a maior parte do tempo. Sob chuva ou sol, lá está ele, com a cara e a coragem, o fiel pescador, encarando os mares nas jangadas que são temas infindáveis de poesias e de canções, mas que são ainda atrevidas conduções para o modo de vida de muitos.

A profissão é pouco reconhecida e não é valorizada. Motivos não faltam para que haja o prestígio indispensável a esses grandes profissionais. Apesar de não serem estimados, é aceitável e esperado que esses profissionais tenham o reconhecimento que merecem. Um dos pescadores mais antigos da colônia não quis ser identificado e lamentou dizendo que “desde que eu me entendo por gente sou pescador. Já vi de tudo aqui, mas nunca vi nosso trabalho ser reconhecido. Isso desanima. Eu fico muito triste com isso”, disse o pescador.

(junho de 2006)

6 comentários

  1. otima postagem, parabéns
    pena que eu não vi o teu blog antes, pois acabei de fazer um documentário sobre Yemanjá, onde falei também dos pescadores poderia concerteza ter enriquecido o meu trabalho ao ler o seu texto.

    • Hi Kynha, I am working on a project in this area. I would love to see your documentary. Is it available on-line somewhere?

  2. oi tudo bom meu jose alves eu sou pescador mais a pesca poraqui não vai muito boa eu gostaria de pescar no mar e pascer muitoboa eu estou procurando um lugar pramim pescar no ano 2o13

  3. Oi Kynha. Obrigada! Que pena você não viu antes… mas com certeza o seu trabalho deve ter ficado legal também. Abraços, Luciana.

  4. Venho por meio desta abordar um assunto ainda pouco divulgado no Brasil: os acidentes com peixes venenosos, que são mais frequentes do que se imagina. Sugeriria que fossem feitas campanhas de prevenção junto a pescadores , marisqueiros e banhistas sobre como evitar acidentes, principalmente com os peixes mais perigosos: o niquim (peixe sapo) nas regioes norte e nordeste , o peixe escorpião, em toda a costa e as arraias e bagres tanto em agua doce como salgada. Em cidades não litoraneas o problema acontece principalmente com bagres e arraias. No caso do niquim, ele habita mangues e rios proximos ao mar e praias proximas a esses mangues, rios e lagoas (muitas vezes enterrado) e acaba sendo pisado. Pra evitar acidentes, é necessário usar calçados de sola grossa nesses locais e evitar deitar-se proximo as margens. No caso de bagres e arraias, embora habitem tambem rios de agua doce, longe do mar, as medidas de proteção são as mesmas. Já o peixe escorpião vive em mares, principalmente proximo a corais, mimetizando-se com o ambiente, não sendo visto muitas vezes. Para evitar acidentes é necessário usar, alem de sapatos de sola grossa, quando estiver dentro da água, luvas com boa proteção de couro quando for manusear peixes em anzois, tarrafas e redes.muitas vezes os acidentes acontecem depois que o peixe já retirado do anzol esta morto e é pisado dentro da embarcação, pois esse peixe mesmo morto causa ferimentos e mantem o veneno ativo.por isso, mesmo em caso de pesca em embarcação deve-se usar calçados. no caso de mergulhadores, deve-se evitar apoiar partes do corpo desprotegidas em pedras, corais, embarcações afundadas ou plataformas de petroleo, ou botar a mão em tocas. em caso de acidente deve-se colocar o local atingido em agua quente (o mais quente que se possa suportar) e ir rapidamente a um hospital. Em caso de acidentes longe do territorio, emergencialmente pode se usar até mesmo um isqueiro aceso ou cigarro proximo ao local atingido para aquece-lo (sem encostar no ferimento). Gostaria que estas informações fossem repassadas ao maior numero de orgãos (associações de pescadores e marisqueiros, secretarias de estado e municipais, etc..). Vale lembrar que esses acidentes são tão ou mais graves do que os ocorridos com cobras e escorpiões e podem deixar graves sequelas, alem de serem bastante dolorosos. Outra sugestão seria colocar placas de aviso em locais de risco, alertando banhistas, pescadores e marisqueiros para que não entrem em aguas com tais peixes ou entrem devidamente protegidos. Tal divulgação poderia ainda ser feita junto a hoteis, pousadas e colonias de pescadores e marisqueiros. Um bom exemplo de combate a esse problema é o da Bahia Pesca, que distribui equipamentos de proteção a pescadores e marisqueiros. outra boa medida seria a produção de materiais impressos com as informações acima para distribuição à população. vale lembrar que há varios registros de acidentes na praia do rio vermelho com niquim

Deixe um comentário